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As origens apócrifas do cristianismo
Apresentação
1 Abrindo as portas das origens
2 O Evangelho de Maria Madalena
MM 7,1-10: a matéria MM 7,11-28: o pecado
MM 8,1-10: harmonia MM 8,11-24: bem-aventurado
MM 9,1-20: o beijo MM 10,1-25: o tesouro
MM 15,1-25; os climas MM 17,1-20: a preferida
MM 18,1-21: Meu irmão Pedro MM 19,1-3: anunciar o evangelho
3 O Evangelho de Tomé
Texto, datação e autoria Gênero Literário e conteúdo
Personagens Evangelho de Tomé e o de João
A não-dualidade O Reino do Pai
Evangelho de Tomé e os sinóticos Tomé e Maria Madalena
4 A outra Maria, mãe de Jesus, segundo os apócrifos
Os pais de Maria A infância de Maria Maria deixa o Templo
Maria em Nazaré A caminho Entre Belém, Egito e Nazaré
A morte de Jesus O anúncio da morte O dia em que Maria morreu
A procissão Maria no túmulo Resumo
5 A história de José nos evangelhos apócrifos
6 A infância de Jesus nos apócrifos
7 Conclusão
8 Bibliografia básica para o estudo dos apócrifos

Infelizmente não temos as páginas de 11 a 14 do evangelho de Maria Madalena. O versículo 25 da página 10 ao terminar com a expressão "é ele que vê e é ele que" ... deixa um mistério. O que mais faria o nous? Não sabemos. Ele muito realizaria. O desejo de saber o que vem depois também é saudável. Quando, no céu, encontrarmos com Maria Madalena, ela certamente terá muito a nos dizer sobre essas páginas arrancadas pelo tempo de seu evangelho. Continuemos a tarefa de interpretar o seu evangelho a partir do diálogo de sua alma com os climas, a começar pela cobiça.

MM 15,1-25; 16,1-19: o dialogo da alma iluminada de Maria Madalena com os climas[]

MM 15,1-25[]

1"Eu não te vi descer,
2mas agora eu te vejo subir",
3diz a Cobiça.
4"Por que tu mentes, já que fazes parte de mim?"
5A alma respondeu:
6"Eu, eu te vi,
7tu, tu não me viste.
8Tu não me reconhecestes;
9eu estava contigo como uma vestimenta,
10e tu não me percebeste"
11Tendo dito isto,
12ela se foi toda contente.
13Depois apresentou-se a ela o terceiro clima,
14chamado Ignorância.
15Ela interroga a alma, perguntando-lhe:
16"Aonde vais?
17Não estavas dominada por uma má inclinação?
18Sim, tu estavas sem discernimento, e tu estavas em servidão."
19A alma disse então:
20"Por que me julgas? Eu não te julguei.
21Dominaram-me, eu não dominei;
22não me reconheceram,
23mas eu, eu reconheci
24que tudo o que é composto se decomporá
25sobre a terra como no céu."

MM 16,1-19[]

1Libertada deste terceiro clima, a alma continua subir.
2Ela se apercebe do quarto clima.
3Este tinha sete manifestações.
4A primeira manifestação é a Treva;
5a segunda, Cobiça
6a terceira, Ignorância
7a quarta, Inveja mortal
8a quinta, Dominação carnal
9a sexta, Sabedoria bêbada
10a sétima, Sabedoria astuciosa.
11Tais são as sete manifestações da Cólera
12que oprimem a alma de perguntas:
13"De onde tuvens, homicida?
14para onde vais, vagabunda?"
15A alma respondeu:
16"Aquele que me oprimia foi condenado à morte;
17aquele que me aprisionava não existe mais;
18minha cobiça então se apaziguou
19e eu fui livrada de minha ignorância."


A cobiça é considerada o segundo clima, ou potências, forças, energias, autoridades, pelos quais a Alma tem que passar para atingir o Repouso, o Silêncio (17,6). O evangelho fala de quatro climas, sendo o quarto, a cólera com seus sete estágios ou manifestações. Qual seria o primeiro clima? Não o sabemos. Os climas são:

2. Cobiça
3. Ignorância
4. Cólera

As sete manifestações da cólera são:

  1. Trevva
  2. CobiçaA cobiça é um clima e uma manifestação da cólera?
  3. Ignorânciaidem
  4. Inveja
  5. Dominação carnal
  6. Sabedoria bêbada
  7. Sabedoria astuciosa

Notório são os sete pecados capitais que impedem o cristão de chegar à plenitude. São eles:

  1. Gula
  2. Fornicação
  3. Avareza
  4. Preguiça
  5. Cólera
  6. Vanglória
  7. Orgulho

Não seriam esses os sete demônios, climas ou pecados, de que os evangelhos canônicos falam que Maria Madalena foi libertada por Jesus?

O diálogo entre a alma de Maria Madalena e os climas mostra o caminho trilhado que ela fez para se libertar.

Alma x Cobiça[]

Cobiça é o desejo de se apropriar, possuir, que cada ser humano carrega dentro de si. O ter é a obsessão de muitos. E quantos são escravos do seu patrimônio? Pelo simples medo de serem roubados, perdem noites a fio de sono. As suas casas tem cercas elétricas, guardas, cães, etc. Os bens são o próprio cativeiro que os impedem de viver felizes. A bem da verdade, bens em exagero são fruto da exploração. Ninguém luta tanto na vida a ponto de acumular fortunas. Quem vive por cobiçar bens não é livre. Vira obsessão esnobar os bens. O sangue das veias corre em direção ao ter sempre mais. Não basta o suficiente para a vida. Isso se chama cobiça no evangelho de Maria madalena. Ela age como uma vestimenta da Alma. A cobiça precisa acusar alguém para se justificar. A alma de Maria Madalena, iluminada pelo nous, passa ilesa pela Cobiça. Ela não se deixou iludir por ela.

Alma x Ignorância[]

A Ignorância é o não saber. Muitos preferem viver na ignorância. Isso faz bem. Saber implica responsabilidade e compromisso. No evangelho de Maria Madalena, ela faz perguntas: ?"Aonde vais?" As perguntas na boca da Ignorância são um modo de ironizar a própria Ignorância. Quem é ignorante ainda faz pergunta, se crê sábio. Muitos de nossos dirigentes políticos acham que sabem governar. Chegam a justificar os seus atos dizendo que é normal o modo como agem. O que é pior: perderam a sensibilidade diante da miséria que eles mesmo criaram.

A alma de Maria Madalena tudo sabe. Ela viveu próximo do Mestre. Com ele conversou e aprendeu. Maria Madalena, a sábia, é uma ameaça para todos que a cercam. Ela é lúcida. Conhece o que faz - "Dominaram-me, eu não dominei", responde Maria Madalena. Isso significa dizer: Não fiz conchavos; Não entrei no jogo sujo; Tive consciência que devia agir com justiça. O grande pecado de Maria Madalena foi de saber. A mulher não tinha obrigação e nem direito de aprender. Bastava o cuidado com a casa, filhos e maridos.

Alma x Inveja mortal[]

Inveja mortal é sinônimo de ciúme homicida. Um invejoso não se dá conta de seus atos. Ele tudo quer. A alma de Maria Madalena ensina que o outro não é coisa para ser invejada, possuída. O que vale entre os filhos de Deus é a partilha. A inveja pode levar a morte. Quem é invejoso, mesmo que respire oxigênio, é um morto-vivo.

Alma x Dominação carnal[]

A dominação carnal consiste em viver segundo a carne, sob seus impulsos. A alma de Maria Madalena vence a carne e nos convoca a libertar-se dela.

Alma x Sabedoria bêbada e astuciosa[]

A literatura sapiencial de Israel desenvolveu a concepção de Sabedoria como personificação da Torá. Ao lado dessa Sabedoria, era sempre apresentado ao jovem a falsa sabedoria, aquela que tirava as pessoas do caminho de Deus.

A alma de Maria Madalena compreendeu Jesus como a única Sabedoria morava dentro dela, propiciando-lhe a verdadeira harmonia. Para ela, a falsa sabedoria não tinha vez nem voz.

Passando por todos esses climas, Maria Madalena mostrou-se firme. Ela estava plena do nous e do Pneuma e, por isso, não era vagabunda, como quiseram lhe nomear os climas. Ela sabia aonde ia. Ela chegou a dimensão do espiritual por inteiro.